segunda-feira, 25 de maio de 2009

CINDERELA

- Gosta de carros grandes?

- Depende do que se faz dentro deles – e faz mover as ondas do cabelo.

Vaporoso vestido de seda preta, cabelo de anúncio de xampu, salto do sapato com a altura da estratosfera. Ele de smoking, brilho no olhar e na abotoadura dourada, jeito de príncipe. Meia dúzia de minutos de conversa, encontro casual, casualíssimo. Ele pergunta, ela responde, ele treme leve, o olho dela diz Why not?

Minutos depois o grande automóvel pára em tranqüilo-lugar. Banco traseiro prêmio de maciez. Brinco guardado na bolsa, meia e muito mais no chão, ela envia um dos tornozelos espiar pelo lado de fora da janela, afasta o outro para o lado oposto, muito longe. A seda negra do vestido arregaçada até o umbigo traz à visão uma outra seda, muito mais negra, muito úmida. Brilhantes pela tensão e pela borracha os centímetros do rapaz desaparecem um após o outro, o portal negro a devorá-los em silêncio.

Ela dá grito fino de agulha, ele não sente dor mas geme. Rápida, a mão dela lhe arranca o plástico, a semente cálida lhe acaricia até o cordão do pescoço.

Voltam metade de hora depois. Ela ajeita o cabelo, mesmo sorriso. Arranca um dos sapatos, deixa no banco. .

Ela já a cinco passos, a misturar-se à cidade. Ele pergunta Qual é seu nome?

Ela mal se volta:

- Cinderela.

Um comentário:

  1. Delicia!

    Como as metáforas e um belo fim (cereja no bolo) podem dar charme a uma história banal?!

    Parabéns...

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Seus comentários! Beijos, Beatriz.