Por estes meses foi um prazer escrever aqui para vocês. Era uma alegria ver o índice de visitantes aumentando nas segundas e nas terças, e principalmente ver os comentários. Gosto de imaginar que proporcionei momentos de alegria às pessoas, prazer a dois, a um, a três, a trinta eheh.
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Tudo na vida muda, e neste momento estou enforcadíssima com mudança de emprego. Quem me acompanha sabe que prometo pouco para poder cumprir sempre. E não poderei ter o prazer de continuar com esse blogue até abril de 2011. Então voltarei, talvez neste mesmo formato, talvez não.
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Agradeço a toooodos os que comentaram, e a todos os que leram. Amem muito, sejam felizes, e eu respondo a e-mails sim. Deixo vocês com o primeiro capítulo do meu livro, a coisa mais real que escrevi. Sejam felizes, amem muito sempre com camisinha, e 2011 está logo aí! Eheh
Beijos e beijos,
Beatriz
Nunca pensei em ser dondoca.
Sempre vi o trabalho como algo natural. Filha de contador, filha de professora, o ciclo formatura / carteira de trabalho / vestido de noiva / aniversário de filho era para mim inevitável como respirar. Meus irmãos escolheram megabytes ou índices de liquidez corrente. Eu escolhi Machado e Graciliano. E pensei desse jeito até um mês de dezembro. Então começou minha aventura, que você vive a partir de agora.
Faltavam vinte e dois dias para minha formatura quando saí pelo portão principal da Universidade. Estava atrapalhada por dois Dom Casmurro de exemplares grossos que tinha emprestado na biblioteca do Instituto de Humanas. E mais três Os Bruzundangas, e mais um Bom Crioulo. O Colégio C... estava com um programa de ensino de literatura em pequenos grupos. Eu entusiasmada com meu estágio lá.
Carregada de realismo e naturalismo mal percebi o carro com velocidade de tartaruga. Seguiu-me desde a esquina da Pedro Gerheim até um par de ruas depois. Não dei importância.
E nem o percebia no dia seguinte. Meninos de dezesseis podem ser apaixonados por Machado mas são mais ainda por carros. Discutíamos na frente do colégio se Capitu traiu e um dos rapazes apontou o Mercedes prateadinho. O setor masculino o reverenciou como manifestação do Olimpo, as meninas torceram o nariz. O motorista pareceu intimidado. Arrancou, evitou passar em frente a nós, vidros levantados.
Encontrei-o parado na direção da favelinha onde dava aulas de pré-vestibular como voluntária, meia dúzia de horas depois. Não se moveu.
Dia seguinte mandei um de meus alunos como espião e ele informou que lá estava o alvo, como chamou. Dispensei a turma dez minutos mais cedo. Plano feito. Saí pela entrada lateral, dobrei a esquina e lá estava, porta aberta, sem ninguém, em frente a uma birosca.
Gente há que acredita
Era um palmo mais alto que eu. Os olhos azuis e a cabeça comprida me bateram na hora: estrangeiro. Jeans e camiseta que nele tinham a elegância de smocking. Olhos de menino pego roubando o doce de goiaba. Por um par de segundos olhamos um a cara do outro. Ofereceu-me a mão com a naturalidade de quem se apresenta à Rainha. Disse: Ludwig! Ri.
- Na Faculdade, no colégio, no voluntariado. Está me seguindo?
Afagou coceira imaginária na nuca. Não conseguia me sustentar o olhar.
- Sim – disse ele.
- Por quê?
- Que tal se disser que acho você bonita?
(Apelando para minha vaidade! Devia se envergonhar!)
- Vai comprar a branquinha do homem?
Duas notas pequenininhas trocaram de mãos e Ludwig arremessou o litro numa lixeira dois passos depois. Trocamos oficialmente de nome e telefone. Recusei a oferta de carona. Agradei ao recusar, gostou de minha cautela.
Todo namoro é um ritual. Bares na subida da São Mateus, Chopin e Beethoven no Cine-Theatro Central, caminhadas ao mirante do Morro do Imperador. E as apresentações às famílias ou melhor à minha, pois a de Ludwig está a uns oito ou nove mil quilômetros de distância. Nasceu em Hannover há quarenta anos, há quase dezenove veio para cá e não quis mais sair. Dirige a fábrica com mão suave. Apaixonado por polias e voltagens, ao voltar do trabalho esquece as máquinas, uma das coisas que me fascina nele.
Nosso primeiro beijo foi três dias depois de começarmos a namorar. E um par de semanas depois sua mão deslizou pelo meu ombro, seguiu a curva, escolheu o caminho por baixo do top verde-enjôo, parou sobre o bico e deu um par de voltinhas. Aos catorze anos eu já decidira que os sutiãs eram um trambolho desnecessário e a mão dele se aproveitou de tal decisão. Não me incomodei nem um pouquinho-quinho.
Semanas seguintes tops e microblusas também se foram revelando demais. Na verdade só uma tanguinha cor-de-rosa com duas inevitáveis estampas de coração me separavam da roupa de Eva quando ele pronunciou a palavra casamento.
Senti a pancada. Nunca pensara. Era como uma roupa cujo manequim não cabe, você não compra e não pensa sobre.
Perguntei se queria toda a verdade. Se queria casar comigo, que fosse sem zonas de sombra. Ele disse Sim. Revelei dois namoricos da pesada. Contei de uma menina de dezoito num motel com o estúpido nome de Styllus a olhar mais curiosa que excitada o falo muito duro do coleguinha de Lingüística Românica. E que essa foi a primeira de quatro com o primeiro namoradinho, e depois teve mais cinco com o segundo, cada uma revelada com detalhes de radiografia. Falei de calcinhas sendo tiradas em bancos de fuscas, de laços de calções masculinos sendo desfeitos com os dentes.
Calei. Esperei a tríade vagabunda-cadela-vadia seguida da partida-para-nunca-mais. Por um par de milênios não abriu a boca. Mas abriu. E disse:
- Na terceira transa com o primeiro namorado, afinal você chupou ou não o rapaz?
Minha vez de abrir a boca, de espanto. Num pedaço de segundo repassei tudo e lembrei que esquecera aquele detalhe. Ludwig me ouvira como um aluno de declinações do latim. Derramei o balde, verdade em excesso:
- Chupei e muito. Não era pequeno.
É agora, pensei. Tinha sido noiva por trinta e sete minutos.
A tríade não veio. A mão tremida engatou a marcha. Deixou-me
Havia felicidade.
Pensei que a espera seria pelo restante dos séculos. Mas foram só três dias. Ludwig me ligou. Tinha uma surpresa, voz ansiosa de vestibulando devorando lista de aprovados.
A surpresa era uma caixinha. Abriu-a, duas alianças dentro. Meu lado Cinderela deu um pulo. Já nele não havia euforia, havia ansiedade como se o vestibulando agora chegasse às últimas vagas sem ver seu nome. Ele disse que agora era a vez dele ser sincero.
Começou: amava-me, queria igreja, véu, grinalda, e que eu fosse fiel.
- Serei – disse eu. – Nunca terei outro.
Engasgou, tossiu, disse que não era bem aquilo. Ou melhor, era sim, mas. O conceito dele de fidelidade era: eu sempre faria amor com ele, só com ele... e engasgou de novo, ...mas o corpo poderá ser de outro homem.
Demorei uns cinco segundos para juntar os pedaços.
- Você quer que eu faça amor com outros homens?
- Não, não. Comigo.
Relaxei.
- Mas através do corpo de outros homens.
Tensionei de novo. Detalhou: Não precisa ser na minha frente. Pode ser longe de mim, desde que me conte tudo. E não precisa ser com outro homem. Podem ser mulheres, ou casais. E quem vai fazer amor seremos nós dois. Fidelidade total. Não dê importância aos outros homens ou seja lá quem. São corpos que utilizaremos para o nosso prazer. Mas amor, só entre nós.
Popó e Maguila me acertaram juntos na cara. E Ludwig ainda tinha um segundo pedido. Ele sabia o quanto eu gostava de ensinar. Disse que eu poderia pegar algum trabalho voluntário. Mas ele ganhava o suficiente mesmo que fôssemos duzentos, quanto mais dois. Eu dedicaria meus dias às compras e ao amor. Essa seria a minha vida com ele.
Teria aplicado um tapa de mão cheia em qualquer pessoa do Planeta Terra que não ele. Naquele momento eu descobri que amava Ludwig. Saí em silêncio.
Tentei voltar à minha vida. Colégio, voluntariado, família, leitura de Drummond, planos de mestrado. Evitava olhar as fotos de formatura. Lá estava Ludwig, feliz, nós felizes, eu com a ridícula beca de babador.
Ele era uma página em minha vida que eu tentava virar mas parecia colada. Particularmente tentava virar a página da proposta. Repetia a palavra absurdo. Absurdo, absurdo. Como ele podia me fazer uma proposta absurda daquelas?
Bronzeado de surfista, músculos de astro do Big Brother, o garotão pediu meio balde de morango com chocolate na sorveteria na Rio Branco. Uns dezenove anos, por aí. Eu a duas mesas de distância, delirei. Marido permissivo, chave do Vectra na mão, eu passaria um plá, o levaria para casa, em frente à sagrada cama de casal eu faria cair esse jeans e o resto, só uma coisa se ergueria, muito rígida, e meu marido aparecendo de surpresa, pasta na mão, rindo a viver. Absurdo... era isso que Ludwig queria? O garotão saiu e no mesmo lugar veio uma loura. Jeitão de separada e era separada mesmo, ouvi-a recitar ao celular, “meu ex-marido”. Óculos escuros, pediu só sabores diet. Delirei de novo. O garotão ao lado da cama desapareceu e se transformou nela, cabelo solto, óculos jogados de lado, abrindo a blusa como stripper me revelando a inexistência de sutiã. Nós duas. E o garotão se rematerializou e abraçou a nós duas. Nós três. Engasguei do milk-shake de baunilha com adoçante.
Decidi que era fantasia e que fantasia não paga pedágio. Delirava
Recebi rosas cor-de-paixão e um bilhete perfumado: “Amo-a”. Devolvi o bilhete com uma palavra rabiscada ao lado: “Também.”
Casamo-nos numa igreja de formato estranho em Juiz de Fora.
Caríssimos Beatriz e Ludwig (me dirijo a ambos, porque estou certo das contribuições de Ludwig para estes relatos):
ResponderExcluirFoi com tristeza que li sobre o fim deste blog.
Sempre muito bem escrito, tocava absurdamente nas minhas mais íntimas fantasias, fetiches e taras.
Gostaria muito de poder conversar com vocês em algum momento. Vou deixar aqui o meu contato de msn e e-mail: casalcp2009@hotmail.com
Adoraria receber notícias suas. Isso aqui vai deixar saudades.
Achei um fragmento de um poema que se chama "Tudo vai acabar". Lembrei de você e resolvi deixar registrado aqui.
Beijos e muito boa sorte ao casal.
SR.EROS (Casal Eros & Psiquê Minas)
"Imponha-se diante dos espelhos
Olhe seus olhos, agora negros.
Você ainda está lá!
Olhe bem fundo,
Entenda o desespero,
Corra.
Tudo vai acabar!
Tua pele arrepia,
Não sabes onde pisa,
Algo te impede de respirar.
Você quer sair,
Você quer parar,
Está cansada.
Tudo vai acabar!
Teme a morte,
Venera à Deus,
Acredita em milagres.
Alma pecadora,
Tu sabes teus pecados
Ainda tem contas á pagar.
Tudo vai acabar!
Ta te sufocando,
Coloque pra fora.
Sai dai,
Ainda pode se salvar.
As costas envergam agora,
O frio te arrebate as pálpebras
As pernas não sustentam as costas.
Tudo vai acabar!
Dói,
Não desista,
Abra seus olhos,
Logo encontrará a saída.
Tudo vai acabar.
Termine,
Você pode terminar!
Você queria que terminasse,
Vá em frente, acabe com tudo.
Esqueça do medo,
Hoje poderás ousar!
Tudo vai acabar!"
Recolocando mensagem apagada pelo blogger:
ResponderExcluirEROS,
você foi um refrigério durante esses meses. E a vida muda, não pára! Estamos sempre aqui e voltaremos, pois somos seres eróticos (todos nós) desde a primeira hora de vida. beijos, sejamos felizes e até breve! Continuemos sempre no erotismo!
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Beijos e beijos,
Ana Beatriz (e Ludwig)
Veja o nosso blog
ResponderExcluirhttp://casal-oeste-10.blogspot.com/?zx=a6fc9239eb44a1fc
Gotei de todos os seus contos, parabéns!Pena que esteja parada nas suas edições.
ResponderExcluirComo não tem e-mail para lhe poder comunicar que editei no meu blog o seu primeiro conto "CINDERELA", faço-o aqui.
Se achar que o deva retirar, diga-me por favor.
Uma vez mais, parabéns pelo bom gosto de sensualidade e erotismo impregnados nos seus contos.