segunda-feira, 22 de junho de 2009

ESCONDE-ESCONDE

Hoje consideraria tia Laura uma jovem mulher aos seus trinta. Na época era uma Matusalém de biquíni. Tinha uma casinha de praia para onde levava as sobrinhas.

Era amiga de um carinha misto de surfista, pescador e guia de turismo, meia dúzia de anos mais novo que ela e bronzeado de fábrica e com garantia permanente. Sorria e parecia ter estoque infindo de jujubas, eu gostava dele.

Cinco, seis horas, sol a cair. Ouvi a um quarto de voz:

- Ela está lá em cima.

- Você está tão molhada.

Pensei em brincadeira, algum esconde-esconde de regras difíceis. Desci.

- Você está salgado – era a tia.

Fiz meu lugar-de-esconder entre as folhonas de um jarro de plantas. Só me pareceu esquisito, aquele corpo quadrado, diferente do corpo curvilíneo das mulheres aos quais já me acostumava. E do centro dele algo como em perpendicular emergindo de uma mancha preta. Juro quem só pensei por que aquilo estava apontando para o lado. Não devia ser para frente?

Minha tia ajoelhou-se e eu subi, tudo me pareceu menos interessante que um bom esconde-esconde. Demorei meia dúzia de minutos para cair em sono e outra tanto de anos para entender. Na época não me pareceu nada de mais. E nem depois.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

DON´T STOP

- Tudo bem com você? – disse ele.

- Não pára – disse ela.

A mão dela amassava o lençol, a colcha de algodão e parte do travesseiro. Ansiedade de recém-divorciada, ansiedade de solteiro. Ela resolvera se deitar vestida de Eva e o fez de bruços. Ele à la Adão deitara-se por cima dela. O passeio dele pelo corpo dela se fazia pelos caminhos turísticos normais.

Ela intensa, a balançar a cada golpe vendo o mundo pelos olhos meio fechados. Gania baixo, quase cachorrinha. Ele tomava quase-susto com o efeito que fazia nela. Não esperava tanto. Perguntava se ela estava OK como a menina com febre.

Os homens gostam, as mulheres vomitam, rasgam-se, querem praticar harakiri ao menor pensamento desta terrihorrível coisa. Na lenda. Na prática –

- Quero do outro jeito agora.

Ele engoliu papel jornal amassado. Ele queria. Mas assim repentino, iniciativa dela, era fora dos padrões. Mas macho é macho, não recusa.

Ela voltou com pote de creme, voltou à posição. Pensamento bobo voou na cabeça dele, quem está a comer quem.

O bravo explorador, novo Da Gama, se dispôs a caminhos nunca dantes. Ela trancou os dentes. No começo. Depois passava a língua neles. Ela quase queria fugir em astronave diante do furor. Mas macho é macho, não se assusta.

- Tudo bem com você? – dizia ele quase a desejar o Não.

- Não pára – dizia ela.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

VIZINHOS

Marcela ao se separar veio morar numa casa. Arquitetura moderninha, a área de estender roupa dava para o vizinho.

Um casal de pombinhos recém-casados ocupou a casa vizinha. Trocavam sorrisos com Marcela e pouco mais.

Tarde de sábado, estendia lençóis. Ouviu gemido. A garota se empenhava em afastar o mais possível os dois tornozelos. Na frente dela, o cara parecia ter mais de palmo e meio. Marcela decidiu que o mais digno seria sair. Ficou. O casalzinho fez mamãe-e-papai, de-quatrinho, coquetel-de-frutas de posições. Trocaram gritinhos-de-gozo.

Naquela noite Marcela deu conta: estava no seco havia seis meses e dezessete dias.

E o casalzinho tinha a força dos melados-de-lua. Um dia a garota resolveu praticar hipismo: Upa upa, cavalinho! e balançou a mão, laço imaginário. Aioôôôôôuuu Silver! e acelerava o galope.

O ver virou vício. Marcela circulava pela casa com ouvido hipersensível na casa vizinha, os horários muito regulares dos dois a ajudar tudo.

Noutra noite Marcela assistiu a um quase-crime: a garota vestida de Eva sentou-se sobre o seu Adão, também a caráter. E sentou-se sobre a cara dele, inteira, total peso, feliz como rainha, cruelmente se sentando sobre o rosto do dele sempre que o coitado fazia tentativa de respirar.

Dia seguinte, ritual de sempre, a calcinha da garota voando longe. Marcela vê ou começa a ver. Seus passos comandam, descem a escada, amassam as lajes da rua. A mão aperta a campainha. O sorriso da garota aparece, o mesmo do marido logo atrás.

- Entre – disse. – Estávamos à espera.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

LÓGICAS

Duas no bar na Rio Branco.

- Homem não presta.

- Homem não presta.

- Então...

Os olhos azuis de Marisa mergulharam nos castanho-claros de Andréia. Eram amigas desde os tempos do Instituto de Educação. Sempre se orgulharam de serem lógicas, dizer-e-fazer.

- Então vamos experimentar, não? – e Andréia levantou derrubando a bolsa.

Os pais de Marisa de férias, o apartamento só delas. Botou um sax no CD, música-para-namorar.

Sentaram no sofá, mãos dadas, hipnotizando a parede, nenhuma a ter coragem. Marisa pensou nunca-ou-agora:

- Vamos dançar nuas?

-Tu-tu-tu-do bem.

E o bustiê de Marisa caiu sobre o sutiã-boa-menina de Andréia, que foi amassado pelo jeans apertadíssimo da loura, que serviu de anteparo à bermuda retrô da amiga.

Música quase parada, dança também, as duas no centro da sala. Marisa apertou a amiga encaixando os seios pequenos nos bem maiores da outra. Andréia percorreu as costas da outra com as mãos, Marisa roçou os lábios no pescoço da amiga, Andréia a chamou de linda e inesquecível. Marisa disse que a amava. Andréia disse Você me deixa louca, enquanto tossia.

Marisa parou:

- Sabe, não estou achando graça nenhuma.

- Nem eu – e fez cara-de-alívio.

E caíram na gargalhada e decidiram ir dançar na Privilége, música alta
, onde talvez conhecessem carinhas que as depois fizessem concluir que homem não presta.