segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Queridas e queridos,

Por estes meses foi um prazer escrever aqui para vocês. Era uma alegria ver o índice de visitantes aumentando nas segundas e nas terças, e principalmente ver os comentários. Gosto de imaginar que proporcionei momentos de alegria às pessoas, prazer a dois, a um, a três, a trinta eheh.

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Tudo na vida muda, e neste momento estou enforcadíssima com mudança de emprego. Quem me acompanha sabe que prometo pouco para poder cumprir sempre. E não poderei ter o prazer de continuar com esse blogue até abril de 2011. Então voltarei, talvez neste mesmo formato, talvez não.

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Agradeço a toooodos os que comentaram, e a todos os que leram. Amem muito, sejam felizes, e eu respondo a e-mails sim. Deixo vocês com o primeiro capítulo do meu livro, a coisa mais real que escrevi. Sejam felizes, amem muito sempre com camisinha, e 2011 está logo aí! Eheh


Beijos e beijos,


Beatriz


A PROPOSTA DE LUDWIG (Como tudo começou)


Nunca pensei em ser dondoca.


Sempre vi o trabalho como algo natural. Filha de contador, filha de professora, o ciclo formatura / carteira de trabalho / vestido de noiva / aniversário de filho era para mim inevitável como respirar. Meus irmãos escolheram megabytes ou índices de liquidez corrente. Eu escolhi Machado e Graciliano. E pensei desse jeito até um mês de dezembro. Então começou minha aventura, que você vive a partir de agora.


Faltavam vinte e dois dias para minha formatura quando saí pelo portão principal da Universidade. Estava atrapalhada por dois Dom Casmurro de exemplares grossos que tinha emprestado na biblioteca do Instituto de Humanas. E mais três Os Bruzundangas, e mais um Bom Crioulo. O Colégio C... estava com um programa de ensino de literatura em pequenos grupos. Eu entusiasmada com meu estágio lá.


Carregada de realismo e naturalismo mal percebi o carro com velocidade de tartaruga. Seguiu-me desde a esquina da Pedro Gerheim até um par de ruas depois. Não dei importância.


E nem o percebia no dia seguinte. Meninos de dezesseis podem ser apaixonados por Machado mas são mais ainda por carros. Discutíamos na frente do colégio se Capitu traiu e um dos rapazes apontou o Mercedes prateadinho. O setor masculino o reverenciou como manifestação do Olimpo, as meninas torceram o nariz. O motorista pareceu intimidado. Arrancou, evitou passar em frente a nós, vidros levantados.


Encontrei-o parado na direção da favelinha onde dava aulas de pré-vestibular como voluntária, meia dúzia de horas depois. Não se moveu.


Dia seguinte mandei um de meus alunos como espião e ele informou que lá estava o alvo, como chamou. Dispensei a turma dez minutos mais cedo. Plano feito. Saí pela entrada lateral, dobrei a esquina e lá estava, porta aberta, sem ninguém, em frente a uma birosca.


Gente há que acredita em sorte. Eu creio em intuição. Intuí que eu não estava ameaçada. Se alguém ameaçava, era eu. Mineiros são loucos por branquinha. E o dono da birosca era daqueles chatos, mostrava o litro e insistia e insistia. O comprador ou vítima dizia não obrigado com um português atolado. Quis sair, deu de cara comigo e minha vida nunca mais foi a mesma.


Era um palmo mais alto que eu. Os olhos azuis e a cabeça comprida me bateram na hora: estrangeiro. Jeans e camiseta que nele tinham a elegância de smocking. Olhos de menino pego roubando o doce de goiaba. Por um par de segundos olhamos um a cara do outro. Ofereceu-me a mão com a naturalidade de quem se apresenta à Rainha. Disse: Ludwig! Ri.


- Na Faculdade, no colégio, no voluntariado. Está me seguindo?


Afagou coceira imaginária na nuca. Não conseguia me sustentar o olhar.


- Sim – disse ele.


- Por quê?


- Que tal se disser que acho você bonita?


(Apelando para minha vaidade! Devia se envergonhar!)


- Vai comprar a branquinha do homem?


Duas notas pequenininhas trocaram de mãos e Ludwig arremessou o litro numa lixeira dois passos depois. Trocamos oficialmente de nome e telefone. Recusei a oferta de carona. Agradei ao recusar, gostou de minha cautela.

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Todo namoro é um ritual. Bares na subida da São Mateus, Chopin e Beethoven no Cine-Theatro Central, caminhadas ao mirante do Morro do Imperador. E as apresentações às famílias ou melhor à minha, pois a de Ludwig está a uns oito ou nove mil quilômetros de distância. Nasceu em Hannover há quarenta anos, há quase dezenove veio para cá e não quis mais sair. Dirige a fábrica com mão suave. Apaixonado por polias e voltagens, ao voltar do trabalho esquece as máquinas, uma das coisas que me fascina nele.


Nosso primeiro beijo foi três dias depois de começarmos a namorar. E um par de semanas depois sua mão deslizou pelo meu ombro, seguiu a curva, escolheu o caminho por baixo do top verde-enjôo, parou sobre o bico e deu um par de voltinhas. Aos catorze anos eu já decidira que os sutiãs eram um trambolho desnecessário e a mão dele se aproveitou de tal decisão. Não me incomodei nem um pouquinho-quinho.


Semanas seguintes tops e microblusas também se foram revelando demais. Na verdade só uma tanguinha cor-de-rosa com duas inevitáveis estampas de coração me separavam da roupa de Eva quando ele pronunciou a palavra casamento.


Senti a pancada. Nunca pensara. Era como uma roupa cujo manequim não cabe, você não compra e não pensa sobre.


Perguntei se queria toda a verdade. Se queria casar comigo, que fosse sem zonas de sombra. Ele disse Sim. Revelei dois namoricos da pesada. Contei de uma menina de dezoito num motel com o estúpido nome de Styllus a olhar mais curiosa que excitada o falo muito duro do coleguinha de Lingüística Românica. E que essa foi a primeira de quatro com o primeiro namoradinho, e depois teve mais cinco com o segundo, cada uma revelada com detalhes de radiografia. Falei de calcinhas sendo tiradas em bancos de fuscas, de laços de calções masculinos sendo desfeitos com os dentes.


Calei. Esperei a tríade vagabunda-cadela-vadia seguida da partida-para-nunca-mais. Por um par de milênios não abriu a boca. Mas abriu. E disse:


- Na terceira transa com o primeiro namorado, afinal você chupou ou não o rapaz?


Minha vez de abrir a boca, de espanto. Num pedaço de segundo repassei tudo e lembrei que esquecera aquele detalhe. Ludwig me ouvira como um aluno de declinações do latim. Derramei o balde, verdade em excesso:


- Chupei e muito. Não era pequeno.


É agora, pensei. Tinha sido noiva por trinta e sete minutos.


A tríade não veio. A mão tremida engatou a marcha. Deixou-me em casa. Deu a volta para abrir-me a porta, cavalheiro. Eu me roía por ter feito sofrer uma pessoa a quem queria bem. Para me castigar, encarei-o. Caí o queixo. Não vi sofrimento. Não havia sofrimento.


Havia felicidade.

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Pensei que a espera seria pelo restante dos séculos. Mas foram só três dias. Ludwig me ligou. Tinha uma surpresa, voz ansiosa de vestibulando devorando lista de aprovados.



A surpresa era uma caixinha. Abriu-a, duas alianças dentro. Meu lado Cinderela deu um pulo. Já nele não havia euforia, havia ansiedade como se o vestibulando agora chegasse às últimas vagas sem ver seu nome. Ele disse que agora era a vez dele ser sincero.


Começou: amava-me, queria igreja, véu, grinalda, e que eu fosse fiel.


- Serei – disse eu. – Nunca terei outro.


Engasgou, tossiu, disse que não era bem aquilo. Ou melhor, era sim, mas. O conceito dele de fidelidade era: eu sempre faria amor com ele, só com ele... e engasgou de novo, ...mas o corpo poderá ser de outro homem.


Demorei uns cinco segundos para juntar os pedaços.


- Você quer que eu faça amor com outros homens?


- Não, não. Comigo.


Relaxei.


- Mas através do corpo de outros homens.


Tensionei de novo. Detalhou: Não precisa ser na minha frente. Pode ser longe de mim, desde que me conte tudo. E não precisa ser com outro homem. Podem ser mulheres, ou casais. E quem vai fazer amor seremos nós dois. Fidelidade total. Não dê importância aos outros homens ou seja lá quem. São corpos que utilizaremos para o nosso prazer. Mas amor, só entre nós.


Popó e Maguila me acertaram juntos na cara. E Ludwig ainda tinha um segundo pedido. Ele sabia o quanto eu gostava de ensinar. Disse que eu poderia pegar algum trabalho voluntário. Mas ele ganhava o suficiente mesmo que fôssemos duzentos, quanto mais dois. Eu dedicaria meus dias às compras e ao amor. Essa seria a minha vida com ele.


Teria aplicado um tapa de mão cheia em qualquer pessoa do Planeta Terra que não ele. Naquele momento eu descobri que amava Ludwig. Saí em silêncio.

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Tentei voltar à minha vida. Colégio, voluntariado, família, leitura de Drummond, planos de mestrado. Evitava olhar as fotos de formatura. Lá estava Ludwig, feliz, nós felizes, eu com a ridícula beca de babador.


Ele era uma página em minha vida que eu tentava virar mas parecia colada. Particularmente tentava virar a página da proposta. Repetia a palavra absurdo. Absurdo, absurdo. Como ele podia me fazer uma proposta absurda daquelas?


Bronzeado de surfista, músculos de astro do Big Brother, o garotão pediu meio balde de morango com chocolate na sorveteria na Rio Branco. Uns dezenove anos, por aí. Eu a duas mesas de distância, delirei. Marido permissivo, chave do Vectra na mão, eu passaria um plá, o levaria para casa, em frente à sagrada cama de casal eu faria cair esse jeans e o resto, só uma coisa se ergueria, muito rígida, e meu marido aparecendo de surpresa, pasta na mão, rindo a viver. Absurdo... era isso que Ludwig queria? O garotão saiu e no mesmo lugar veio uma loura. Jeitão de separada e era separada mesmo, ouvi-a recitar ao celular, “meu ex-marido”. Óculos escuros, pediu só sabores diet. Delirei de novo. O garotão ao lado da cama desapareceu e se transformou nela, cabelo solto, óculos jogados de lado, abrindo a blusa como stripper me revelando a inexistência de sutiã. Nós duas. E o garotão se rematerializou e abraçou a nós duas. Nós três. Engasguei do milk-shake de baunilha com adoçante.


Decidi que era fantasia e que fantasia não paga pedágio. Delirava em tudo. Em casamentos me imaginava acordando abraçada de recheio aos corpos nus da noiva e do noivo. Imaginava amigas com olhos em faíscas me convidando a uma lua-de-mel de fim de semana com o marido, ou com elas mesmas. De absurda a proposta foi passando a estranha, de estranha a incômoda, depois só meio isso.


Recebi rosas cor-de-paixão e um bilhete perfumado: “Amo-a”. Devolvi o bilhete com uma palavra rabiscada ao lado: “Também.”


Casamo-nos numa igreja de formato estranho em Juiz de Fora.


segunda-feira, 23 de novembro de 2009

TIRANDO PUREZAS

Não me vejam com tridente, chifrinhos e lingerie vermelha mas gosto de corromper pessoas. Não qualquer pessoa – gente leve, feliz, boa, gente que quer viver sua vida querendo-bem – e gente que gosta de amar fisicamente outras pessoas, sem necessariamente ligar a amor de novela, etc.

E as deusas do ramo, Afrodite e Cleópatra, creio, parecem me ajudar. Essa é antiguinha, vários anos. Aconteceu em Parati, novembro como esse, sol rachante. Eu e Ludwig curtíamos a 336ª ou parecida lua de mel em pousadinha, e assim Denise e Leandro curtiam sua primeira.
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Sabe aquelas pessoas totalmente inofensivas, incapazes de mal? Eram assim, era olhar para as carinhas e ver, a dupla de sorrisinhos tímidos. Fiquei amigo deles, especialmente dela.

Encontrava com ela na beira da piscina, Denise com aquele jeitinho feliz-tímido. Perguntou-me se era uma segunda lua-de-mel. Falei enrolando casual a ponta do cabelo. “É sim, mas a gente é temático. A lua de mel mesmo foi do jeito normal. Agora a gente combinou fazer mais anal.”

Momento cruciante. Se minha amiguinha saísse correndo, fora só uma boa tentativa. Levou o copo à boca. Não me olhou. Perguntou: “Vocês gostam?” Olhei o relógio. Disse que meia hora antes eu estava levando estocadas duras ao extremo... “Nem parece, né? Dizem que a gente quando faz por trás não consegue andar direito... mas você percebeu alguma coisa?”

A pobre garota tossiu o chope duas vezes mas falou: “Não, você está andando normal”. Primeiro passo dado.

Horas depois encontrei com eles. Ele me olhou diferente. Entendi que ela contara tudo. Olhou-me como mulher-que-dá-por-trás. eheh

Minhas conversas e de Denise se soltaram, eu sempre usando a tática de me soltar antes para ver o que acontecia. Denise logo soube que o de Ludwig não era o primeiro. Ela mais solta pediu para que eu contasse e eu revelei com detalhes o sangramento bobinho advindo da perda desta inutilidade que se chama virgindade com rima e tudo, ela se divertindo, e Ludwig se aproximou. Ela me fez cara de desespero, falou com os lábios sem som. Com Ludwig se enxugando a dois palmos de distância eu “...aí eu percebi que não tinha sentido o gosto do mel do garoto, e eu queria muito saber como era, aí fiz ele se sentar na ponta da cama, fui por cima e...” Lindo ver a carinha de desespero dela,

Trinta minutos depois ela abriu o sorriso de dentes de anúncio de kolinos e disse que não perdera a virgindade naquela cama-de-pousada. Disse que três meses antes não conseguiram mais segurar. “Abri as pernas pra ele” – disse ela e riu.

Um dia decidi que era o nada-ou-tudo. “Querem ver um outro casal a meter? Vocês não precisam fazer nada. Só olham e vão embora”. Denise mudara muito nos últimos três dias. “Normal ou por trás?” – perguntou. “Ah, depende da inspiração do momento!” – gargalhamos.

Interessante que pensamos uma em fazer uma armadilha para a outra, e foi ela quem me pegou. Eu pensei em como seria bacana se a fizesse entrar em nosso quarto, e aspas casualmente ela veria uma transa entre eu e Ludwig. Em vez disso, ela me mandou recado pela portaria que meu shampoo natural ficara com ela. Achei estranho o recado, e não um telefonema. Meio da tarde, tudo morto, até as gringos de pele de camarão o 204 estavam dormindo depois do excesso de sol. Bati à porta. Denise me disse para entrar. Senti o clima. Passei a saletinha.

Da porta do quarto, cena linda de viver: Um casalzinho muito jovem, ela, os seios pequenos de bicos-rosa muito suave sentada na beirada da cama vestindo só uma linda tornozeleira de prata, ele com a falta de roupa a realçar o falo muito duro apontando para os lábios da sua boquinha que se abriram e o engoliram quase inteiro, enquanto a mãozinha desajeitada ainda aprendendo as coisas do amor pesado lhe sopesava os bagos. Fiquei orgulhosa da minha amiga pois o rapaz era até que avantajado.

E mais orgulhosa fiquei quando eles me mostraram sua linda inexperiência num papai-e-mamãe – mal sabiam eles que quando se transa para outros verem, existem posições muito mais convenientes para a platéia. Só pude ver o bumbum dele subindo e descendo parecendo querer separar ainda mais as pernas da moça que lhe arranhava as costas.

Rapidinho ele encheu o doce buraco da garota de mel – ainda não sabiam se controlar, meus quase filhinhos. Baixinho disse que adorei e achei lindo – e disse a ela que meia hora depois podia me encontrar na piscina embaixo para um par de Alexanders – e ela desceu meio ressabiada e eu falei de meu segundo namorado antes de Ludwig – e do sinalzinho que tinha no seu instrumento. Disso e de outras levezas. Nem mencionei a cena. Ela abriu sorriso. Eu a ganhara. Meus lindas amigos tinham uma tarazinha – fazer com platéia. E eu fui a platéia! Rárá!

Depois soube que ela comprou fitas de presente e se enrolou e ofereceu no aniversário dele de presente o seu lindo e redondinho bumbum – e gosto de pensar que fez assim pensando no meu exemplo!

Não me vejam com tridente, chifrinhos e lingerie vermelha mas gosto de corromper pessoas. Não qualquer pessoa – gente leve, feliz, boa, gente que quer vier sua vida querendo-bem. E que melhor?

Beijos e beijos, Bia

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

LARISSA AOS PEDAÇOS

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Carregávamos metade de uma tonelada cada uma de livros de macroeconomia debaixo dos pilotis. Ela dizia:

- Toda mulher gosta de mulher, apenas por uma questão de grana acabam casando com um bigode.


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Não sei se dizia para chocar. Talvez sim. Esperávamos o 170 e ela me disse:

- Acho linda essa palavra, lés-bi-ca, llllés... rola na língua.


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Eu vivia fase complicada, aliás ambas. Vindas de longe, ela bem do Sul, eu bem do Norte, para destruir parte dos nossos vinte poucos (caso dela) e dos meus quase-trinta (caso meu) para fazer um mestrado. Gostei do nome dela, Larissa. Tinha jeitão de nome russo, coisa ousada. Eu disse que achava meu nome bobinho, Cristiana, nome de virgem eterna.

- É bobinho mesmo, disse e riu. Quis puxar-lhe os cabelos e rasgar cada centímetro dos seus bustiês e saias jeans.


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Larissa me divertia. Um refrigério para quem vem de longe com 453 livros para estudar.


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Era complicado ficarmos juntas. Eu morava com prima e marido dela e filhos e etc. Ela tinha um quartinho num alojamento de freiras, pago. As freiras eram moralistas. Proibiam visitas masculinas nos quartos. Quanto a visitas femininas, podiam derramar-se por horas.

- Elas nuuunca imaginam o que pode acontecer: “Ai ui Ermengarda, que dedos que você tem!” “Sim Carmencita, que língua maravilhosa, nunca mais vou querer nem pensar em cuecas, ai ui!”

- Vamos estudar Micro, dizia eu na escrivaninha do quarto dela. Prova próxima semana.


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- Vamos ver TV? Ela disse. Pensei: Faustão, tortura. Antes que eu protestasse ela jogou para o espaço a blusa elastex. Os seios de minha amiga e o bico esquerdo um par de milímetros maior que o direito me encheram o mundo por uns dois dias. Ficamos sentadas no chão, costas na cama, vendo o gordo chato do domingo. Nunca me pareceu tão interessante. Tirei minha blusa também.


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Nas tardes-de-estudo juntas passeava de um lado para outro de bermuda tirada, a calcinha-tanga verde de tiras de meio dedo. Um dia escolhi uma vaporosa branca e tirei o short também. Achei que vi o olho dela meio-brilhar, mas fiquei na dúvida.


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Teorias de Larissa: toda mulher teve uma experiência com outra. Não imagina a quantidade de vetustas senhoras em organizações conservadoras que fez um meia-novezinho com a vizinha. Ou no mínimo brincaram de aprender a beijar.

Não foi adiante por razões e-co-nô-mi-cas. Machos ganham mais, dão grana, dão alianças e estabilidade – Oh sociedadezinha capitalista – dizia ela no seu socialismo de araque.


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Comprei três calcinhas, uma cor de rosa, outra cavadíssima lilás e a mais ousada, fio-dental violeta, para decidir. Decidi por nenhuma. Botei a maior, tipo vovó. Achei que nada ia acontecer.


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Estudávamos gráficos de custo, tarde mormacenta de sábado. “Larissa”. “Sim?” “Vou te comer”. A respiração dela virou chumbo.


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Trinta segundos depois nossos seios dançavam, os bicos morenos de Larissa, os meus bem cor de rosa roçando nos pelos da sua coxa


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Um minuto: eu a afastar as coxas da minha coleguinha, a costura da calcinha bem visível. Beijei a costura. Mordeu a mão para não dar uivinho.


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Mais minuto. A calcinha virara um oito no canto do armário. Lambo minha amiga. Ela aperta os lábios para não gritar. Provoco-a, olho no olho: “Larissa, eu me sinto tão lésbica!” “Adoro essa palavra”, ela disse.

domingo, 8 de novembro de 2009

BÊBADA

O álcool tem muito a ver com o mundo da troca-de-casais. Sabe como é, desinibição, afastar timidezes, etc. Nada contra, não sou moralista. Se uns mililitros de vinho gaúcho vão ajudar uma secretária ou um professor a terem um momento inesquecível em suas vidas, why not? Apenas eu não preciso. Gosto na coisa olho-no-olho, desde que um dia quando tinha meus dezoito anos e um par de meses que decidi que estava cansada de ser zero-quilômetro, e queria experimentar aquilo que tem nomes científicos e nomes populares como foder, meter ou trepar. Minha pobre virgindade não durou nem mais trinta dias, a coitadinha.
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Com Tamara e Adriano foi diferente. Primeiro, por serem jovens – os casais de nossa vida são quase todos mais maduros. Depois, por que quem articulou fui eu, e não Ludwig. Eu conhecia o rapaz, cruzamos nossos caminhos no voluntariado em que trabalho. Elogiou a gente, disse que éramos um casal muito correto, não se envolvia em fofocas, ao contrário de muita gente.
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Sabe esses momentos em que a gente sente que é momento de arriscar? Joguei: agradeci, e disse que além disso nós saíamos com outros casais, cada um com a sua, ou trocando, não tinha problema. E que se ele e Tamara sonhavam um dia em dar uma variada em sua vida sexual, sem mudar a vida deles em nada, com muito respeito e camisinhas, podiam contar com a gente e nossa discrição que ele conhecia.
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Dei a pancada com a seriedade de quem faz uma demonstração de teorema geométrico. Dado o recado, disse que ia fazer alguma tarefa e sai da sala. Voltei uma dúzia de minutos depois e ele desligava o fone, ainda tonto. Adivinhei que ligara para a esposinha, incapaz de agüentar a novidade sozinho. Cumprimentei-me. Senti que eu tocara num ponto sensível.
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Foi antes de uma reunião de coordenação que dias depois o vi, olhos duplicados de tamanho, respiração de chumbo. Perguntei se ele e Tamara tinham pensado em nossa proposta. Parecendo aliviado por eu ter tomado a iniciativa, disse que eles pensaram e queriam experimentar. Mas cada um com a sua. Nada de troca. Eu disse que ótimo, eu e Ludwig teríamos prazer em nos amar na frente deles. E se depois eles quisessem tirar a roupa e se amar também ficassem à vontade. E repeti as garantias de sempre.
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Que re-repeti para Tamara no bar onde nos encontramos os quatro na sexta. Tamara é uma lourinha que sempre usou cabelos curtos com as pontas docemente voltadas para fora. Parecia intimidada e atribuí a isso os dois cálices de Moet que virou quase de cara. Com outros casais, temos uma divisão de tarefas: Ludwig fica com as brincadeiras, a leveza geral; eu, falo daquilo. A conversa não pode ficar séria senão enregela tudo. Falo de jovens mulheres tirando tangas ao entrar em praias de nudismo, de mulheres de meia idade a comer universitários que podiam ser seus sobrinhos, de boquetes em bancos traseiros de carros enquanto o marido dirige, experiências nossas e de outros, vistas e de ouvir dizer.
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Eu falava e Tamara empurrava mais champanhe. Temi que dormisse. Já pensava em como encaminhar o assunto quando a carinha delicada com um suave cheiro de álcool disse: vamos pro Number One!
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A garota foi sensacional. No trajeto da porta até a cama de cobertura lilás foram ficando a saia não-muito-curtinha, a blusa cor-vinho quase transparente e como prêmio máximo a calcinha violeta com rendinhas na borda, enroladinha no chão.
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E pude ver o que a calcinha até então ocultou. Tamara se jogou vibrando a cama sem nada, nada, nem um brinco nem uma tornozeleirinha prateada, nuinha nua nua, e com simplicidade afatou as coxas – doce e puramente abriu as pernas muito brancas, num gesto tão natural quanto lindo. Aquele risco cor de rosa que apareceu encheu meus olhos e o Mundo. Linda a fenda da mulher do meu amigo. Não pude vê-la muito pois o falo do marido logo o forçou a abrir-se e seu corpo cobriu o da garota.
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O marido olhava de meio-olho para a gente mas a esposinha com as coxas sempre muito afastadas assinalava cada estocada que levava do macho com um ganidinho rouco, que me fazia sentir o cheiro do Moet.
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Já disse várias vezes que não sou santa mas precisa dizer que Ludwig também não é nenhum anjo. Não é que o danado, banho tomado, cheiroso, vestido de Adão, no auge do mete-mete dos dois, como quem nada quer trouxe o poste já muito horizontal a uns dez dedos do rostinho da gata bêbada. E o resultado, bem, com a mesma doçura com a moça abriu as coxas ela tocou o falo com a sua mãozinha esquerda e um segundo depois metade dele desaparecia em sua boca de batom groselha – Ludwig não agüentou e deu uivo para o teto. Acontecera – a mulher transava com dois! Temi que a coisa não prestasse. Adriano fez cara de quem viu choque de cometas – e deixou passar. Apreciou o boquete da esposa em outro.
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Eu e Ludwig sabemos muito bem de política de swing – é preciso que os dois casais se aspas comprometam. Eles tinham se desinibido, estava na hora da gente se desinibir. Assim, depois que os nossos amigos ficaram calminhos, eu e Ludwig nos oferecemos para eles verem um showzinho nosso – e o fixemos, trocando várias posições e terminando com um gozosinho básico na barriga, para eles verem. Parecemos casal de casa de show erótico. Eles adoraram!
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O álcool tem muito a ver com o mundo da troca-de-casais. Sabe como é, desinibição, afastar timidezes, etc. Nada contra, não sou moralista. Se uns mililitros de vinho gaúcho vão ajudar uma moça ou um homem a terem um momento inesquecível em suas vidas, why not?
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Beijos e beijos, Bia

domingo, 1 de novembro de 2009

PRA VALER

Chega de prévias-conversas e lero, agora é metida-pra-valer. Eu e Ludwig com outro casal – cena mais ou menos rara, preferimos um rapaz sozinho. Terminada a fase de conhecimentos, compatibilidades, ver-se-é-isso-mesmo-que-vocês-querem, cálculos para ver se não cai na fase daqueles-dias de nenhuma das duas do setor feminino (argh), chega-se ao que interessa. Ludwig com ritmo, aproxima-se e se afasta do corpo da mulher que três dias antes ele nem sabia que existia – ela deitada, beira da cama redonda de motel, ela com a saia verde-abacate arregaçada até acima do um umbigo, Ludwig sem nenhum pedaço de pano colado no corpo.

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(Filosofia Ludwiguiana: ele diz que uma mulher pode transar com uma cambraia sobre os seios ou um pedaço de seda enlaçando os braços. Mas um homem, seja com a sacrossanta esposa, com uma amante ou com a mulher do outro, deve transar sempre total e por completo nu). Ela não ganharia concurso de modelo: os delicados pneuzinhos balançam com ritmo regular ao impacto das estocadas extraordinariamente regulares do marido da outra, o grosso cano a aparecer e desaparecer no doce buraco guarnecido por uma florestinha de pelos castanhos muito clarinhos.

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As mãos do outro cara competem ao Nobel de desajeitamento. Procuram espaço debaixo de minha bermuda frouxa e se metem debaixo da calcinha – tanga, o cara ainda pingando gotinhas (outra norma – cavalheiros, banho antes – sempre). Faz cara de vitória quando os dedos sentem a minha própria guarnição negra do meu túnel do amor. Com a calma de quem foge de terremoto me baixa-quase-arrebenta o zíper, me quase-rasga a bermuda, e sua boca me abocanha enganchando meus pelos nos dentes, e enquanto com a cabeça perdida o homem (tem seus quarenta e cinco) amassa meus pobres seios. Mas tudo bem, quem transa não pode ser muito cheia de toques-não.

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Depois de levar mais ou menos uma centena de estocadas, deixo o outro homem a amolecer depois de explodir em creme e me volto para o outro casal. Meu lado homem: vendo o falo afundar sem dó, é como se eu estivesse comendo outra mulher. Meu lado canalha: detesto falsas santas. Se ela está metendo com outro homem, é por que ela é assim como eu e não tem outra palavra uma pu-ti-nha. Ludwig enfia, com ritmo, as mãos segurando as pernas dela como a um guidão de bicicleta. Espero ela chegar perto de gozar. Então pergunto se ela é uma putinha, cadela, galinha, vagabunda e ela concorda com tudo, e ainda dou meu dedo para chupar. Tontas de tanto sexo, nunca conheci uma que não chupasse.

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Sinto algo duro entre minhas coxas, estou nua e é fácil sentir. O cara se recuperou e quer um segundo tempo. E por que não. E vou a ele. Ninguém é anjo. Nem mesmo quem lê!

Beijos e beijos, Bia